13 de out. de 2015

A cabeça da gente

Semana passada eu fui conhecer uma pessoa, muito especial, que está na luta da recuperação de sequelas de um AVC, como muitos outros que por aqui passam os olhos. Sem dúvida cada luta é de cada um, é uma batalha individual. Podemos reunir um arsenal de primeira, com Fisio, Fono, TO, Acupuntura, o que tiver de mais moderno em recuperação de sequelas. Mas muitas vezes esquecemos como devemos lidar com a nossa cabeça: ela pode ser a maior incentivadora para a nossa recuperação, mas também pode ser aquela que mais nos boicota.


Nem sempre é fácil identificar em qual lado ela está.
Não vou escrever aqui um tratado de autoajuda para vocês, mas gostaria que fizessem uma reflexão.

Só posso falar do meu caso, de mais ninguém. Então tudo que eu escrever aqui, foi o que se passou no mais íntimo. Da época do hospital não vou falar nada não. Caso se interessem no que se passava na minha cabeça na época que eu estava no hospital, vou pedir que procurem os meus posts iniciais, em 2011 mesmo, ano que sofri os AVCs. Vou escrever aqui o que se passava na minha cabeça na época que voltei pra casa.

De cara, a rotina completamente alterada. Alterada não! Completamente refeita!  Em um apartamento em que eu morava só, totalmente independente, de repente tinha quatro pessoas fixas, que tomavam conta de mim, além das mil visitas que recebia diariamente. Ou seja, da paz de quem morava sozinha, ao circo armado, casa mudada, da porta arrancada, do blindex retirado, da cama hospitalar, da rotina que não me agradava nem um pouco.
Já não bastava o que eu estava passando, tinha que aceitar tudo isso. Não existia outra opção: EU TINHA QUE ACEITAR. PONTO FINAL.

Nadar contra a correnteza em nada iria me ajudar. É aí onde quero chegar: não adianta nos revoltarmos, nos irritarmos. É fato que a rotina mudou. É fato que eu não seria mais a mesma. É fato que a forma como eu estava acostumada a me relacionar com os outros também iria mudar.

Não estou querendo fazer papel de Madre Teresa de Calcutá. Longe disso. As minhas fiéis escudeiras é que sabem. Briguei, falei alto, me mostrei irritada, dava bronca (papel ridículo – dando broca em cima de uma cama sem poder se mexer e falando o que mal conseguia pronunciar). Tive momentos de rabugice, mas escolhi não ser uma pessoa amarga a maior parte do tempo. Elas me aguentaram, mas não me mereceram daquele jeito.

Recebo muitas mensagens de pessoas que acompanham o meu blog, querendo saber se um estado irritadiço é comum nesses quadros. Clinicamente, não faço a mínima idéia, mas acho perfeitamente normal a pessoa se sentir irritada por um momento. UM MOMENTO, DOIS MOMENTOS, mas que não torne isso uma rotina.

As pessoas à nossa volta também estão passando por transformações. E também tem seus medos, angústias, dúvida do que vai ser dali por diante, o quanto a pessoa vai conseguir recuperar da sua independência.  Não queria nem me sobrecarregar, nem sobrecarregar aquelas pessoas mais caras que estavam na minha nova rotina. Tinha momentos de mau-humor. Só isso. Momentos.

Escolher ter uma postura positiva diante daquele momento pelo qual passava, dependia só de mim, da minha cabeça.
Aceitar que a sua vida nunca será mais a mesma é praticamente uma obrigação nossa. Depois que aceitar isso, é correr atrás do prejuízo e ver o quanto você consegue melhorar. Sei que minha recuperação é um ponto fora da curva, e coisa e tal, mas ali, na cama, eu também não sabia o que seria de mim daquele momento em diante.

Me lembro que quando vi o vídeo da Jill Taylor no computador, pensei: se ela ficou boa, eu também ficarei... O prazo de oito anos, que foi o tempo da recuperação dela, não me agradava. Naquele momento, não podia pensar em nada disso, nada de prazo... Só pensava em querer ficar boa.

Essa disposição foi fundamental para mim. FOCO. Muito foco nessa hora. Aí sim, com a disposição correta e com o arsenal montado, fui atrás desse foco. Mas a disposição foi fundamental. Ela existe até hoje.

Não é a toa que coloco sempre objetivos para mim mesma. Recuperei-me. Para as pessoas, estou normal, mas para mim não. Sei que não ficarei como era antes. Mas isso não impede que eu me desafie sempre, em busca de melhoras que só eu percebo. Mas eu vou contar uma coisa: eu estou melhor hoje do que estava ontem.

É com esse espírito que levo a vida.

E a Cláudia, que conheci semana passada, tem tudo para estar melhor também! Astral é tudo mesmo!


Cláudia, força nessa sua luta! E permaneça com esse sorriso!