23 de jul. de 2018

Sete anos e um balanço

Essa semana foi bem tumultuada para mim. Nada em especial, mas foi conturbada. Me dei conta de que sete anos se passaram desde os dois AVCs. Para os que não sabem, os AVCs ocorreram no mesmo período de internação quando estava sendo tratada do primeiro.

Não foi um período fácil na minha vida e na vida dos que me cercavam. Muitas dúvidas, anseios, medos e outros sentimentos não muito confortadores. A perplexidade tomava conta.

Mas como tudo na vida, passa. E passou. De forma diferente, mas passou.  Muita coisa foi adaptada. Muitas superadas. Muito aprendizado. Não há definição para o que veio dessa transformação.

Mas de aprendizados, posso destacar alguns.



Aproveite o momento presente. 

Na minha história, eu saí para uma caminhada no parque e voltei para casa um mês depois da internação. Sem andar, sem falar, sem mexer o meu lado direito. Precisei de enfermeira ao meu lado 24hs.

Conheci pessoas com problemas como os meus. Ajudei algumas. Ajudo outras.

Agora me diz, o que aconteceu com aqueles vinte mil feitos plano naquele dia? Nada, e a vida continuou. Não estou defendendo uma vida sem planejamento, mas estou alertando para a ansiedade que o excesso de futuro causa em nossas vidas. Sabemos que a ansiedade é o mal do século.

Fiz curso de meditação. Entrei de cabeça na Comunhão Espírita. Fui conhecer o Budismo. Não larguei as missas que gosto (esporádicas, mas valiosas). Escutar bons conselhos não fazem mal nenhum. Ao contrário, nos ajudam sempre.

Prefiro ser um sincretismo ambulante, a ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Acho que o Raul me entenderia!

Sim, também sou adepta dos livros de autoajuda. Não gosto muito desse nome que deram a essa categoria. Mas é assim que é. Entre as minhas leituras, umas mais sérias, outras leves, eu tento encaixar um livro dessa categoria na rotina. Vamos oxigenar a cabeça, não é mesmo?

Entre uma e outra leitura, me deparei com algumas surpresas positivas. Inclusive algumas com referência à recuperação de um derrame. Posso adiantar que o saldo desse mix de leitura é positivo

Aprendi a valorizar mais o presente. Parei para prestar mais nos sinais que a vida nos dá.

A escutar mais e a falar menos - quase virei uma muda, já que nunca fui de falar muito! :) Mas isso também tem a ver com uma seqüela que tive: não consigo lidar com muitas conversas ao mesmo tempo, acabo não prestando atenção em nenhuma. Minha conexão agora é para poucos. Tenho que deliberadamente mudar o meu foco para passar para outro assunto.

O falar também não flui como antes. Tenho que elaborar mais o meu pensamento. Pensar mais no vocabulário. Improvisar se tornou uma pedra no meu sapato. Tenho que ensaiar mais na minha cabeça.

O mindfulness (estar presente) tomou conta de mim. Tem que ser o aqui e agora. Não dá para divagar muito. Quando começo a divagar além do presente, tento voltar ao foco. Nem sempre consigo, mas vou tentando. É um exercício a todo momento. Perdi o foco, perdi a linha de pensamento.

Considero o saldo dessa nova configuração - prefiro não chamar de seqüela - positivo. Libertador. Simplificou.

Desconectei para me conectar. Doido, não é?


Exercícios são necessários

É isso aí. Sendo bem simples e direta. Tem que fazer exercício. Antes, durante, depois. Para a vida inteira.

Dou crédito à minha excelente recuperação física à memória muscular. Comecei a frequentar academia já aos 15 anos e continuei nesse ritmo minha vida inteira, com pequenos intervalos esporádicos.

Hoje, após o AVC, reparo facilmente que o lado afetado sem exercício se enfraquece. E não precisa de uma pausa longa para isso ocorrer. Até mesmo quando mudo o tipo de estímulo, posso ter uma alteração na força adquirida anteriormente.

Conclusão: vou me exercitar enquanto a vida deixar, de forma equilibrada. Os benefícios são infinitamente maiores.

Conselho: descubra a sua atividade física. Se for uma coisa que você gosta, melhor ainda. Se você não gosta de exercício, atualmente existe uma variedade enorme para você descobrir o que mais gosta ou, se preferir, o que menos te faz sofrer. Mas tem que mexer o corpo!


Cuide da sua cabeça

No mundo louco em que vivemos hoje, não é uma tarefa fácil manter a mente tranquila. Problema é o que não falta. Todo mundo tem o seu.

A nossa saúde começa na nossa mente. Já existem estudos de física quântica que mostram que a nossa mente é responsável por nossa saúde, tanto mental como física.

Podemos exercitar isso de uma infinidade de formas: terapia, meditação, religião, doutrina, relaxamento, yoga. Chame como você quiser, encontre a sua fonte de fé. Procure se conhecer. Não precisa ser um pacote fechado. Monte a sua receita. Experimente.

A sua cabeça em ordem já é grande parte para a saúde de seu corpo.


Não desista!

Um dos tabus mais pesados no AVC é quando nos dizem que se não recuperar até os seis primeiros meses, depois você não consegue recuperar.  MENTIRA!!! Da mais lavada!!!

Existem AVCs e AVCs, cada um com um tipo de característica, única. Mas a capacidade de recuperação, mesmo que parcial, existe.  Siga o seu objetivo. Lute pela sua melhora. Não deixe essa responsabilidade na mão do outro. Você é quem pode fazer algo por você.

Os profissionais que nos acompanham nessa luta são anjos que devem nos orientar para criarmos nossa próprias asas. Profissionais fundamentais (fisioterapeutas, fonaudiólogos, terapeutas ocupacionais, etc) em nossa caminhada. Acreditem que o que eles aprenderam pode nos ajudar. E nos ajuda.











22 de mai. de 2017

E com mais outro desafio!

Há um tempo não apareço por aqui, não que eu não tenha novidades, mas elas devem ser amadurecidas com o tempo, como qualquer outra coisa que desejamos.

Em outro post comentei que teria um novo desafio: correr.  Esse desafio que coloquei para mim mesma ficou congelado. Por um grande motivo: ODEIO correr. Eu sei que está na moda, que faz bem para o físico e para a mente, blábláblábláblá. Também sei que seria uma enorme desafio. Desde os meus AVCs, não corri nada além de uns poucos metros.  Se me empenhasse, sei que conseguiria correr até uma maratona se quisesse.

Mas resolvi tentar outra atividade que nunca tinha feito na vida, nem quando criança.  Entrei na aula de BALLET! Isso mesmo, Ballet! Com sapatilha, e todos o resto que acompanha a atividade.


Cerca de uma ano, fui muito incentivada por uma amiga, que também é aquela maravilhosa fonoaudióloga que cuidou de mim pós-AVC para que eu voltasse e engolir e a falar.  Me lembro que ela falava que eu tinha que tentar entrar numa aula de Ballet, que seria maravilhoso para mim, que a minha falta de equilíbrio iria melhorar, que a música faria um bem danado a minha alma, que a lateralidade (esquerda e direita) iria melhorar também, até da melhora física, da força, etc.  Uma infinidade de benefícios....

Mas eu não me achava capaz na época. Não teria força na minha perna afetada, que não conseguiria fazer a tal da meia-ponta que toda bailarina tem que fazer (não estou falando da ponta não!), que ficaria na sala que nem uma barata tonta pela falta de equilíbrio, e sei lá mais o quê!

E o tempo passou mais um pouco, até que duas amigas da academia me incentivaram e pediram para eu fazer uma aula experimental. E lá fui eu me desafiar mais uma vez!

Há 8 meses que faço aulas regularmente, duas ou três vezes na semana. Me apaixonei! <3
Foi difícil no início? FOI E É DIFÍCIL ATÉ HOJE
Continua sendo difícil depois desses oito meses? CONTINUA
Melhorei a força nos pés? MUITO
Melhorei a força nas pernas? DEMAIS
Melhorei o meu equilíbrio? MUITO
Ainda tenho o que melhorar? SEMPRE, SEMPRE, SEMPRE

O que eu acho importante salientar aqui é que devemos manter o foco em nossa melhora.  Sem esse objetivo claro em nossa mente, ficaremos sempre a um passo atrás de nos desafiar a tentar e consequentemente de conseguir o que tanto queremos.

Hoje, quase 7 anos depois dos AVCs, posso dizer que estou quase lá...

Precisamos tentar sempre, ter em mente que o nosso objetivo primeiro é ficar boa/bom, melhor do que ontem, muito melhor que no ano passado, e assim por diante.


Dedico esse post às bailarinas que me incentivam diariamente, e em especial à professora Ale que me recebeu em suas aulas de braços abertos e que me desafia a cada aula, sempre pedindo para eu ir além!



28 de jun. de 2016

Uma nova função - BOLOS

Muita coisa aconteceu nesses 5 anos que se passaram desde os AVCs que me pegaram no final de julho de 2011. Nem eu acredito que já se passou tanto tempo.

Me lembro de tudo como se fosse ontem. Vai ver que por ter registrado cada passo importante da minha recuperação e por ainda manter esse canal de comunicação com eventuais leitores que aqui chegam, essa lembrança ainda se faz tão presente na minha vida.  Sim, não teria como ser diferente. Um AVC na vida de qualquer um é um fato marcante.

Mas vamos às novas.

Quem já me acompanha por outros canais já viram que eu me tornei uma boleira (pelo menos estou tentando).   E o que essa informação tem a ver com esse tema? Já, já vocês vão entender.

Iniciei este ano um projeto de fazer bolos sem glúten e sem lactose. E vou dizer que muita coisa aconteceu aqui dentro de mim. Começando por encarar um desafio novo nessa altura da vida. E por ainda ver ganhos que tenho tido desde o meu AVC.

Como já expliquei no início do blog, sofri dois AVCs no tronco cerebral, o que me deixou muito mal mesmo em 2011.  Não falava, não mexia o lado direito... O lado afetado no cérebro foi o lado esquerdo (lembre-se que é sempre cruzada a sequela de um AVC).  O lado esquerdo é o responsável pela lógica do raciocínio, pelas atividades sequências. Analítico, objetivo e racional.  Tudo isso no lado esquerdo, o lado afetado no cérebro.

Começando a minha nova função, tenho que confessar que errei muita receita.  Achei que tinha lido o passo-a-passo, mas sempre acontecia alguma coisa que eu achava que tinha perdido.  E algumas vezes eu tinha perdido mesmo um passo importante. Outras, não. Mesmo jurando que tinha pulado um passo.

Além dessa lógica seqüencial que faz parte da alquimia na cozinha, entre panelas e formas, me vi também precisando ativar outras áreas. Lá vou eu fotografar, publicar, escrever textos para os bolos, acompanhar comentários, responder comentários.  Criar uma lógica na minha produção que vai surgindo ao longo da semana. Afinal de contas, estou tentando virar uma boleira.

Tudo isso eu faço sozinha. Sozinha mesmo.  E vou dizer que não é fácil, mas que melhorou muito desde o início do ano.  Não posso mais errar receitas, tenho que pensar no que tenho que comprar para as encomendas feitas (raciocínio sequencial), porque não pode faltar 1 ovo no meio da receita. Isso é só um exemplo que quero dar de como a minha capacidade de raciocínio, de pensar de forma lógica, de ativar o meu multi-tasking (várias tarefas ao mesmo tempo) está melhorando cada vez mais.

Além da parte cognitiva que eu venho trabalhando nessas novas funções que fazem parte do meu novo dia-a-dia, também tem a parte física.  Passei a escrever mais (minhas etiquetas de bolo são escritas).  Minha letra melhorou significamente! Tem a parte das embalagens, que requer cuidado ao manusear o bolo e a embalagem em si.  Alguns bolos eu tenho que misturar à mão. Força física no meu lado direito (o prejudicado). Ou seja, um intensivão de terapia ocupacional!  Ahhhh, não posso esquecer que tenho tido muita louça para lavar ultimamente! (também tem o seu lado chato...)


E a gente vai se adaptando à nova realidade, e muitas vezes a nova realidade vai se adaptado a nós. Não podemos deixar o medo nos vencer.  Temos que sair da zona de conforto e tentar algo.  Ninguém disse que seria fácil. A única pessoa que se beneficia quando resolvemos sair desse terreno conhecido somos nós. Depois de quase 5 anos, me senti mais segura.  E deu certo. Está dando.

Se não é o seu momento, espere. Espere, mas não desista. Só deixe o tempo da cura ir fazendo o seu papel.



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19 de jan. de 2016

Um encontro mais do que especial!!!

Pessoal,

Final de ano fui passar as minhas férias mais do que merecidas em Tamandaré/Carneiros - PE. Praias maravilhosas, diga-se de passagem! Valeu cada minuto!

Quando estava por lá, uma das minhas primeiras leitoras do blog, a Rochele, entrou em contato comigo. Ficamos de nos encontrar no aeroporto quando estivesse voltando para Brasília, já que eu não ficaria nem um dia em Recife.

Encontrar pessoalmente uma leitora do meu blog não é uma coisa que acontece todo dia.  Fiquei super feliz!  Parecia que já nos conhecíamos. Parecia não!!! Nos conhecemos há 4 anos, só trocando mensagens!



Marcamos numa cafeteria mesmo, assim poderíamos trocar umas palavras.  Como não contaria a história dela com muitos detalhes, pedi que fizesse um pequeno resumo para o blog.  Eis o resumo de Rochele:

"Eu tive um AVC em 2012, quase cheguei a morte cerebral, passei por duas cirurgias na cabeça, 3 dias em coma, respirando por aparelhos. Os médicos disseram que, se eu sobrevivesse, ficaria em estado vegetativo. Minhas chances eram mínimas. 
Passei algum tempo na cadeira de rodas. Meu lado comprometido é o esquerdo.
Em 2014 já retornei para Universidade e esse ano retomo o inglês. 
Depois de quase 4 anos de recuperação é que minha mão está começando a fazer algum movimento."

Acho importante frisar aqui que a recuperação dela, depois de 4 anos, continua a acontecer.  Sei que muitos me perguntam quando o movimento das mão irá voltar, e mais uma vez eu repito que a nossa recuperação é crânio-caudal, os seja, do centro do corpo para as extremidades. O importante é a gente não desistir. Imagino que depois de 4 anos muita gente já desanimaria, mas o caso dela mostra que ainda é possível a recuperação dos movimentos da mão.

Tenho certeza que esse ano de 2016 será o ano de luta da Rochele para recuperar mais os movimentos.  E com certeza ela chegará em 2017 com mais movimentos na sua mão.

Outra coisa legal de comentar é a sua autonomia.  Foi pro aeroporto sozinha, de ônibus.  E como ela mesma conta voltou a Universidade. Ela faz Engenharia Química! :)
E esse ano voltará a estudar inglês! É a vida voltando ao ritmo normal.  E quando chegamos a esse ponto, as melhoras vão acontecendo ainda mais! Cabeça pra Funcionar e Corpo a Movimentar é o que precisamos!

Continue perseverando, Rochele!!!  Fico feliz de tê-la inspirado um pouquinho nessa luta.
Tenho certeza que ainda nos encontraremos para celebrar mais uma vez! Parabéns!



13 de out. de 2015

A cabeça da gente

Semana passada eu fui conhecer uma pessoa, muito especial, que está na luta da recuperação de sequelas de um AVC, como muitos outros que por aqui passam os olhos. Sem dúvida cada luta é de cada um, é uma batalha individual. Podemos reunir um arsenal de primeira, com Fisio, Fono, TO, Acupuntura, o que tiver de mais moderno em recuperação de sequelas. Mas muitas vezes esquecemos como devemos lidar com a nossa cabeça: ela pode ser a maior incentivadora para a nossa recuperação, mas também pode ser aquela que mais nos boicota.


Nem sempre é fácil identificar em qual lado ela está.
Não vou escrever aqui um tratado de autoajuda para vocês, mas gostaria que fizessem uma reflexão.

Só posso falar do meu caso, de mais ninguém. Então tudo que eu escrever aqui, foi o que se passou no mais íntimo. Da época do hospital não vou falar nada não. Caso se interessem no que se passava na minha cabeça na época que eu estava no hospital, vou pedir que procurem os meus posts iniciais, em 2011 mesmo, ano que sofri os AVCs. Vou escrever aqui o que se passava na minha cabeça na época que voltei pra casa.

De cara, a rotina completamente alterada. Alterada não! Completamente refeita!  Em um apartamento em que eu morava só, totalmente independente, de repente tinha quatro pessoas fixas, que tomavam conta de mim, além das mil visitas que recebia diariamente. Ou seja, da paz de quem morava sozinha, ao circo armado, casa mudada, da porta arrancada, do blindex retirado, da cama hospitalar, da rotina que não me agradava nem um pouco.
Já não bastava o que eu estava passando, tinha que aceitar tudo isso. Não existia outra opção: EU TINHA QUE ACEITAR. PONTO FINAL.

Nadar contra a correnteza em nada iria me ajudar. É aí onde quero chegar: não adianta nos revoltarmos, nos irritarmos. É fato que a rotina mudou. É fato que eu não seria mais a mesma. É fato que a forma como eu estava acostumada a me relacionar com os outros também iria mudar.

Não estou querendo fazer papel de Madre Teresa de Calcutá. Longe disso. As minhas fiéis escudeiras é que sabem. Briguei, falei alto, me mostrei irritada, dava bronca (papel ridículo – dando broca em cima de uma cama sem poder se mexer e falando o que mal conseguia pronunciar). Tive momentos de rabugice, mas escolhi não ser uma pessoa amarga a maior parte do tempo. Elas me aguentaram, mas não me mereceram daquele jeito.

Recebo muitas mensagens de pessoas que acompanham o meu blog, querendo saber se um estado irritadiço é comum nesses quadros. Clinicamente, não faço a mínima idéia, mas acho perfeitamente normal a pessoa se sentir irritada por um momento. UM MOMENTO, DOIS MOMENTOS, mas que não torne isso uma rotina.

As pessoas à nossa volta também estão passando por transformações. E também tem seus medos, angústias, dúvida do que vai ser dali por diante, o quanto a pessoa vai conseguir recuperar da sua independência.  Não queria nem me sobrecarregar, nem sobrecarregar aquelas pessoas mais caras que estavam na minha nova rotina. Tinha momentos de mau-humor. Só isso. Momentos.

Escolher ter uma postura positiva diante daquele momento pelo qual passava, dependia só de mim, da minha cabeça.
Aceitar que a sua vida nunca será mais a mesma é praticamente uma obrigação nossa. Depois que aceitar isso, é correr atrás do prejuízo e ver o quanto você consegue melhorar. Sei que minha recuperação é um ponto fora da curva, e coisa e tal, mas ali, na cama, eu também não sabia o que seria de mim daquele momento em diante.

Me lembro que quando vi o vídeo da Jill Taylor no computador, pensei: se ela ficou boa, eu também ficarei... O prazo de oito anos, que foi o tempo da recuperação dela, não me agradava. Naquele momento, não podia pensar em nada disso, nada de prazo... Só pensava em querer ficar boa.

Essa disposição foi fundamental para mim. FOCO. Muito foco nessa hora. Aí sim, com a disposição correta e com o arsenal montado, fui atrás desse foco. Mas a disposição foi fundamental. Ela existe até hoje.

Não é a toa que coloco sempre objetivos para mim mesma. Recuperei-me. Para as pessoas, estou normal, mas para mim não. Sei que não ficarei como era antes. Mas isso não impede que eu me desafie sempre, em busca de melhoras que só eu percebo. Mas eu vou contar uma coisa: eu estou melhor hoje do que estava ontem.

É com esse espírito que levo a vida.

E a Cláudia, que conheci semana passada, tem tudo para estar melhor também! Astral é tudo mesmo!


Cláudia, força nessa sua luta! E permaneça com esse sorriso!

17 de jul. de 2015

4 anos se passaram

Dia 17 de julho de 2011.  Há 4 exatos anos, uma caminhada no parque, que acabou no hospital.

Hoje faço um balanço do que passei esses anos, principalmente do que vivi no meu primeiro ano de recuperação.

O intuito do meu blog foi sempre o de motivar aqueles que passam por provações físicas, sequelas de um AVC, que chega sem dar sinal, virando nossa vida de ponta-cabeça.

Faço sempre um resumão nessas datas, pra quem pegar o blog nesse momento. Mais uma vez repito que é muito legal ler o blog do início, quando fiz o meu pequeno primeiro post em outubro de 2011.  Minha força e habilidade física não me permitia um texto logo, e a minha cabeça não me proporcionava idéias claras à época.

O que posso dizer é que tudo passa.  Pelo menos acredito que devemos pensar assim.  Se esforçar ao máximo para a melhora própria.  Nada, nada vai acontecer enquanto ficar de braços cruzados, ou melhor, de braços parados por conta do AVC, esperando que de um dia pro outro seu dia volte a ser como era antes do derrame.

Aliás, seus dias nunca mais serão os mesmos.  Saber conviver com sequelas físicas, se adaptar a elas e passar a ter uma nova perspectiva de vida, acredito ser um bom início para não nos abater pelos acontecimentos de nossas vidas.

Muitos podem falar pra mim: "fácil pra você, que se recuperou e hoje não tem sequelas".  Escuto pacientemente esse tipo de crítica, e entendo a revolta que vem da pessoa.  Já estive numa condição semelhante a da pessoa, se não pior.  

Passei por tudo de cabeça erguida e foco MUITO bem definido. Eu queria ficar boa.

Nem uma recidiva que tive de um cancêr, seis meses depois de dois AVCs, me desanimou.  Não vou falar que não fiquei triste no momento.  Sim, fiquei. Preocupada também.  Afinal de contas, também tenho medos, angústias e inseguranças como qualquer um.

Sim, passei por uma cirurgia MEGA delicada.  Meses depois, continuando ainda meu tratamento contra o câncer, ainda passei por quimio e por radioterapia.  Fiquei careca.  Tive dores insuportáveis no meu corpo por conta do tratamento, corpo que já estava fragilizado pelas sequelas de dois AVCs.  Nunca interrompi minha fisioterapia. Reduzi sim a carga horária de exercícios, porque meu organismo que não aguentava muitos estímulos. Era muito sacrifício para um corpo só.

Hoje, quatro anos depois, tudo passou.  Me considero um milagre ambulante, que se recuperou muito bem.  A vida voltou ao ritmo normal, os dias voltaram a fluir no seu tempo.  Em alguns momentos até parece que nada aconteceu, mas logo volto a me lembrar desse desafio que superei.

O que posso mais uma vez repetir é que com determinação, foco, profissionais preparados e comprometidos com a minha melhora, eu consegui. Não falo para me gabar, mas para mostrar que consegui, e para mostrar a quem lê meu blog por aqui, que não desanime.  A luta é difícil, mas só vai se tornar menos difícil se você (ou seu amigo/a, irmão/ã, mãe, pai, avô/ó) encarar ela de frente e mostrar a sua vontade de vencer é maior.

Um brinde à força de vontade!  Tim-tim!

20 de jan. de 2015

Metas 2014 x 2015

É... A vida volta ao normal.  Pode demorar alguns meses, um ano, 2 anos e assim por diante.  Mas é fato, ela vai voltar ao normal.

E com a normalidade voltando, algumas coisas que não gostaríamos de assumir aparecem rapidamente! Tinha prometido no ano passado em começar a correr.  Confesso aqui, nem comecei.  Não segui adiante com esse plano do ano de 2014.  

Permaneci na fisioterapia até meados de 2014 e depois parei de vez.  Mas atividades físicas continuam.  Aula de localizada e alongamento, sempre!  O alogamento me beneficia muito com o equilíbrio, e a localizada me ajuda a manter os membros mais fortalecidos.  Não tenho a pretensão de pegar pesado, até mesmo porque o meu corpo não dá conta mais.  O importante é não me frustar porque o peso do presente representa 1/3 do que estava acostumada antes dos AVCs.  Movimento é o que interessa.  Atividade física é o que importa.  Corpo em movimento.

Mais uma vez aqui vou repetir: tenho certeza que o que me fez voltar aos meus atuais 99%, foi eu ter sido uma pessoa que sempre se preocupou com o seu bem-estar físico.

Mas voltando aos objetivos, apesar de não ter corrido como prometi no ano passado, tenho uma novidade.  Comecei a ir pra academia de bicicleta.  Indo e voltando.  Confesso que não é muito.  Ida e volta não chega a 6km.  Mas comecei a fazer isso uma rotina pra mim.  Moro em um lugar com ciclovias, então não me arrisco nas ruas junto com carros loucos!


"Penei" um pouco no início quando voltei a pedalar. Desequilibrava com frequência (não se esqueçam que uma das minhas sequelas é o equilibrio).  Mas como tudo na vida, a gente se adapta, se acostuma, e melhora.  Me sinto hoje mais segura ao pedalar.  Os braços seguram com mais firmeza o guidão.  O desequilíbrio está mais tímido.  O que ainda sofro um pouco são com os hematomas na minha perna direita - Não se esqueçam que quem toma aspirina tem mais facilidade pros hematomas -  Por ser o meu lado mais fraco e desastrado, umas pancadinhas aqui, outras acolá, acabam me deixando com vários hematomas.  Continuo firme mesmo assim.  Acredito que alguma hora isso vai melhorar também.  

Bem, não cumpri a meta de 2014.  Mas o que importa é que comecei 2015 com uma nova, já surtindo seus efeitos!